O Brasil está entrando num patamar novo, e ainda mais perigoso, da pandemia. O alerta é da Fiocruz. E os sinais que levaram a esse diagnóstico sombrio mostram como o país piorou no combate à Covid.
A situação se agrava ao mesmo tempo, em todo país, de forma inédita desde o início da pandemia. É o resultado de um processo que começou há dois meses, com as festas de fim de ano. E agora, o recado de pesquisadores, como o neurocientista Miguel Nicolelis é: se preparem para o pior.
“Esse provavelmente pode ser o pior mês de março da história do Brasil, em termos de perdas de vidas de brasileiros e brasileiras, com a possibilidade de um colapso nacional de todo o sistema de saúde brasileiro”, alerta o neurocientista Miguel Nicolelis.
Os pesquisadores da Fiocruz também chegaram a essa conclusão, analisando indicadores da doença como o crescimento de casos e de mortes. Goiás registrou o maior número de contaminados desde o começo da pandemia: mais de 4 mil em 24 horas. Dentro de um dos hospitais de Goiânia, um médico mostra a gravidade da situação.
E taxa de ocupação de leitos está acima de 80% em 18 estados e no Distrito Federal. Mais de 340 baianos aguardam uma vaga em hospital.
Pela primeira vez, Santa Catarina decidiu transferir pacientes com Covid-19 para outros estados - um já chegou ao Espírito Santo. Ao todo, 15 pacientes serão levados para hospitais de Vitória.
No Paraná, a cidade de Cascavel pede socorro. Os hospitais estão superlotados, com pacientes entubados pelos corredores. A prefeitura determinou que ambulâncias sirvam de leitos. Pacientes morrem em casa sem atendimento.
A vacinação em ritmo lento ainda não consegue frear o contágio. “O Brasil precisa vacinar de 5 a 6 vezes mais pessoas por dia, para nos próximos 90, 120 dias, ter qualquer chance de sair dessa crise, e diminuir dramaticamente o número de pessoas e de vidas perdidas”, afirma Nicolelis.
Novas variantes se espalharam com a falta de controle: “Estamos criando as condições para o aparecimento de um cem número de variantes, que podem vir a ser mais infectantes e letais”, diz o neurocientista.
As dificuldades para medidas enérgicas de isolamento da população e o esgotamento das equipes médicas são realidades que também precisam ser enfrentadas, como explica o pesquisador Carlos Machado, da Fiocruz.
“Vai ser muito difícil manter esse mesmo ritmo mais um ano. Ter um leito de UTI significa ter profissionais preparados, capacitados, com proteção e também descansados”, afirma Carlos Machado.
Diante desse quadro, os pesquisadores reforçam a necessidade de medidas mais rigorosas para restringir a circulação de pessoas, dependendo das condições de cada região. Apoio financeiro emergencial para quem mais precisa e também campanhas de esclarecimento em todo o país sobre a gravidade do momento, reforçando, por exemplo, a importância do uso de máscaras.
“Nós devemos iniciar uma campanha de distribuição de máscaras em larga escala, álcool gel. Isso precisa ser trabalhado conjuntamente. Sem isso, nós vamos aumentar o sofrimento, nós podemos fracassar no enfrentamento dessa pandemia”, afirma o pesquisador da Fiocruz.
O toque de recolher na Bahia, das 20h às 5h, já começou a valer e segue até 1° de abril. Em Salvador e cidades da Região Metropolitana só os serviços essenciais podem funcionar nos próximos quatro dias.
No Maranhão, aulas presenciais suspensas e horários limitados para o comércio fazem parte das medidas anunciadas nesta quarta (3), que entram em vigor na próxima sexta-feira (5) e vão até o dia 14 de março.
“Nós precisamos de um grande pacto nacional para enfrentar isso. E não há um pacto nacional sem uma campanha de todos os setores em diferentes níveis, no sentido de distanciamento físico, social, do uso de máscaras em larga escala o tempo inteiro. Sem isso, a gente corre o risco de, num futuro muito breve, ver aumentar o número de óbitos para mais de 2 mil diários, ou até para mais, a depender da situação”, diz Carlos Machado.
“Também é preciso de uma mensagem nacional clara, transparente, objetiva, que informe a todos os brasileiros que esse é o momento mais dramático da nossa história em séculos. Não existe precedente na história brasileira para o que pode acontecer nos próximos 30 dias”, afirma Nicolelis.