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Mudanças climáticas levam o Noroeste Paulista para os extremos

Mudanças climáticas levam o Noroeste Paulista para os extremos
15.08.2021     Fonte: Corpo de Bombeiros, Inventário Florestal do Estado

Cidades com temperaturas próximas de 45 graus, sol comparado ao do deserto, umidade relativa do ar quase zero e estiagens cada vez mais prolongadas. Esse é o cenário alarmante apontado por especialistas ouvidos pelo Diário para a região noroeste do Estado de São Paulo, caso ações para mitigar os efeitos humanos no clima não sejam adotadas nos próximos meses.

Na terra da cana-de-açúcar e da pecuária, até plantações acostumadas ao calor podem sofrer com as mudanças climáticas, provocando perdas para agricultores, aumento no preço da energia elétrica e até do arroz e feijão, isso sem falar da disputa por água entre bichos e humanos.

No ano passado, o Noroeste Paulista registrou a maior temperatura do século. A estação meteorológica da Unesp de Ilha Solteira, que faz a medição da temperatura desde a década de 1990, apontou que em outubro os termômetros marcaram 44,6 graus, temperatura nunca antes registrada na região desde que a aferição começou a ser realizada.

Morador do Sítio Mandacaru, entre Indiaporã e Guarani d’Oeste, Osvaldo Garcia viu pela primeira vez em cinco décadas a represa da propriedade rural onde mora secar. “Ela secou no ano passado, agora está pura terra. Não dá para acreditar, na época os pássaros comeram todos os peixes do fundo da represa que não existe mais”.

No decorrer da última década cresceu o número de dias sem chuvas na região, como se as nuvens carregadas de água fugissem. O Brasil vive a pior crise hídrica dos últimos 91 anos. Em 2018, Ilha Solteira ficou 165 dias sem um pingo de água dos céus, de acordo com o Canal do Clima da Unesp. Em Populina, no ano passado, não choveu por 182 dias. Em Rio Preto, o índice pluviométrico do Semae - quantidade de chuva por metro quadrado - aponta que neste ano choveu nos sete primeiros meses do ano 442 milímetros. Ou seja, 45% a menos que 2020, quando no mesmo período choveu 805 milímetros.

Cenário que fez ao menos três cidades da região – Rio Preto, Santa Fé do Sul e Uchoa – já decretarem racionamento de água enquanto outras já adotam medidas para evitar a falta de água. "Caso ações não sejam adotadas, vamos ter recorrência de estiagem, ou seja, vai faltar mais água e em mais cidades. Os dias quentes vão ficar mais quentes, e os dias sem chuvas mais recorrentes. E quando vierem as estações das chuvas, chegarão concentradas, ou seja, muita chuva em um curto espaço de tempo", explica o climatologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Francisco Aquino.

Eventos extremos também serão mais recorrentes. Assim, temperaturas negativas, como o -3,7°C em Santa Salete em julho deste ano poderão ser mais corriqueiros. Da mesma forma que os 44,6°C registrados em Ilha Solteira no ano passado.

A desregulação das condições climáticas acontece ao mesmo tempo que a região de Rio Preto bate recorde de queimadas. Dados do Corpo de Bombeiros mostram que o número de incêndios em 2020 foi o maior dos últimos cinco anos, quando os dados de queimadas começaram a ser computados pela corporação. Neste ano, os números dos sete primeiros meses já são 56% maiores que o mesmo período do ano passado.

Da mesma forma, a cobertura vegetal nativa é cada vez mais rara de ser encontrada. Segundo o Inventário Florestal do Estado de São Paulo, atualmente, a região de Rio Preto concentra apenas 11,5% da cobertura existente. A própria Estação Ecológica de Rio Preto – último resquício preservado de Mata Atlântica próximo da cidade - sofre anualmente com os incêndios.

Isso contribui para o aumento da temperatura e pode levar à extinção de espécies, principalmente, anfíbios, como sapos, rãs e pererecas endêmicas. “O mecanismo dessa mudança climática são emissões dos gases de efeito estufa, cada país contribui de uma forma diferente; como o Brasil não é industrializado, essa contribuição vem do desmatamento. Ou seja, as queimadas contribuem muito”, afirmou o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e um dos autores brasileiros do Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças (IPCC), Lincoln Alves.

O que podemos fazer para mudar a realidade?

Divulgado na última semana o Relatório do IPCC, assinado por 234 autores de 65 países, aponta que a crise climática deve ser agravada. Ou seja, eventos extremos como secas e frios intenso devem ser agravados ainda mais. Mas o que podemos fazer para minimizar esses impactos climáticos?

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NÚMERO DE QUEIMADAS EM RIO PRETO

2016: 3.292

2017: 3.512

2018: 3.276

2019: 3.452

2020: 4.680

Janeiro a julho

2020: 2.256

2021: 3.526

COBERTURA VEGETAL

Turvo/ Grande - 1.623.295 hectares

Cobertura vegetal nativa - 186.339 hectares

11,5% da cobertura ?existente

São José dos Dourados - 654.899 hectares

Cobertura vegetal nativa - 79.958 hectares


12.2% da cobertura ?existente

Total Noroeste Paulista – 2.278.194 hectares

Cobertura vegetal nativa – 266.297 hectares