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O que está por trás do boom de carros elétricos no Brasil

O que está por trás do boom de carros elétricos no Brasil
20.01.2024     Fonte: DEUTSCHE WELLE BRASIL

O Brasil registrou um recorde nas vendas de veículos elétricos em 2023, chegando a 94 mil unidades – quase o dobro do volume de 2022. A maior confiança dos brasileiros e a chegada de modelos mais baratos no mercado são apontadas como fatores essenciais para o avanço da frota.

Uma grande fatia das vendas corresponde a montadoras chinesas, que fizeram fortes investimentos no Brasil nos últimos meses. Para 2024, a expectativa é de consolidação do setor, incluindo avanço também no transporte público. Mas também aparecem desafios no panorama, como o descarte das baterias de lítio e as disputas das potências pelo mercado.

O presidente da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE), Ricardo Bastos, avalia que 2023 foi um "ano de virada" para o consumidor brasileiro. Em sua visão, há maior consciência sobre o mercado, que contou ainda com avanços como a maior durabilidade das baterias e o avanço da autonomia das viagens.

Bastos destaca que os elétricos chegaram a um patamar próximo dos 5% das vendas totais de veículos, um número que, em outros países, levou mais consumidores a conhecer os produtos.

Em 2023, o crescimento das vendas foi "turbinado" ainda pelo anúncio do retorno do imposto de importação desses veículos, que ocorreu no começo de janeiro deste ano, indica Bastos. Diante da notícia, muitos compradores correram para adquirir os carros nos últimos meses do ano, sem a tarifa.

Além dos carros, o transporte público também registrou importantes avanços do setor. Segundo um estudo do chamado Grupo C40 de Grandes Cidades para a Liderança Climática (C40 Cities), o número de ônibus elétricos aumentará mais de sete vezes em 32 cidades latino-americanas até 2030, representando uma oportunidade de investimento de mais de 11,3 bilhões de dólares, com mais de 25 mil veículos.

Espera-se que Brasil, Colômbia, Chile e México sejam os mercados mais importantes nos próximos anos, de acordo com a pesquisa, que prevê ainda que os veículos representarão 30% das frotas nas cidades avaliadas em 2030. O C40 Cities lembra ainda que o transporte público existente e o sistema de mobilidade compartilhada compreendem 68% de todas as viagens de passageiros na região, um dos níveis mais elevados do mundo.

Houve destaque ainda para a exploração de matérias-primas essenciais para o setor no Brasil. O Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, é destacado como um grande detentor de lítio, fundamental para as baterias dos elétricos, e as gigantes do setor Tesla e BYD se movimentaram para adquirir a mineração do material na região.

Domínio chinês

Recentemente, a chinesa BYD ultrapassou a Tesla como a maior fabricante de carros elétricos do mundo, e o fenômeno não foi diferente no Brasil. A montadora domina a lista de veículos mais vendidos desse gênero no país, e foi destaque ao oferecer unidades mais baratas que a média, levando competidoras a encontrar maneiras para reduzir seus preços. A BYD oferece unidades por cerca de R$ 150 mil no Brasil, bem abaixo do que as rivais praticavam.

"Não é segredo que os chineses dominam o setor de elétricos, o que foi intensificado no mercado. BYD e GWM observaram e souberam explorar o espaço dos consumidores", afirma Bastos. As duas empresas fizeram fortes investimentos no Brasil. A primeira adquiriu uma fábrica da Ford em Camaçari (BA), anunciando sua primeira produção fora da China, com investimentos de R$ 3 bilhões. Já a GMW vai operar em Iracemápolis (SP), em uma instalação que pertenceu à Mercedes-Benz, além de abrir 50 lojas pelo Brasil.

Especialistas apontam o domínio dos mercados de baterias como um elemento-chave para este cenário. "Uma vez que a bateria é o fator de custo mais elevado para os elétricos, o domínio da China na cadeia de abastecimento proporciona às empresas chinesas a oportunidade de controlar melhor os custos e, assim, tornar os veículos mais acessíveis", explica o CEO da consultoria Automobility Ltd, Bill Russo.

"Essa é, sem dúvida, a razão mais importante para a vantagem de preços dos chineses", afirma, lembrando que seis das dez maiores empresas de baterias para elétricos do mundo são chinesas, respondendo por cerca de dois terços das remessas globais.