Uma moradora de Assis (SP) com um grave problema renal se recupera bem de um transplante raro realizado em Marília. Apesar de adulta, Cristina de Oliveira Gomes, de 42 anos, recebeu os rins de uma criança de dois anos, vítima de uma suposta meningite. Segundo os médicos, os prognósticos de que ela tenha uma vida normal são de 90%. Com visitas controladas no hospital, Cristina ainda precisa tomar uma série de remédios e de cuidados. "Para mim é uma emoção muito grande porque veio de um anjinho. Eu tenho um anjinho dessa idade, que é minha neta. Eu até me emociono porque imagino a dor dos pais. A dor deles e o ato lindo que eles fizeram. Porque eu sei que deve ter sido muito difícil", avisou.
A criança doadora morava em São José do Rio Preto. O transplante realizado na Santa Casa de Marília foi rápido. Depois de descobrir uma fibrose nos rins, a moradora de Assis ficou apenas três dias na fila de espera até achar um doador compatível. "Na minha frente tinham mais de 300 pessoas. Até achei pouco pelo tanto de gente que precisa. Isso chegou na quinta. No domingo me ligaram falando que tinha um rim para mim. Que era de uma criança e se eu não me importava. Aí foi uma festa só em casa”, informou Cristina.
No ano passado foram realizados 1473 transplantes de rins no estado. Número maior que em 2012, quando 1347 pessoas passaram pelo procedimento. Mesmo assim, mais de dez mil pessoas ainda esperam por um doador em São Paulo. Doador e receptor precisam passar por uma série de exames de compatibilidade. Segundo o diretor de transplantes da Santa Casa de Marília, José Cícero Guilhen, o procedimento de Cristina foi o apenas o quarto "transplante de rins em bloco" realizado na história do hospital, que funciona há mais de 30 anos.
"Como não havia nenhuma criança para receber, esses rins seriam desprezados. E se você implanta simplesmente um rim para cada adulto ele não é suficiente para as necessidades desse adulto. E é por isso que se faz o transplante ou o implante desses órgãos em bloco", afirmou. Em casos como este, os órgãos funcionam como se fosse de um doador vivo: 90% das vezes eles continuam funcionando cinco anos depois do transplante.
O médico José Cícero explicou ainda que no transplante em bloco a pessoa recebe além do rim, todo o aparelho urinário do doador, como artérias, veias e ureter, que é o canal que leva a urina para a bexiga. Os rins recebidos por Cristina ainda são pequenos, mas vão crescer e, dentro de seis meses, atender as necessidades do organismo dela.
A possibilidade do transplante é um alívio para quem sofre de doenças renais. O motorista Olímpio Brito faz hemodiálise três vezes por semana e espera há seis anos um doador. "A gente vive da forma, tenta viver de uma forma melhor porque depende de nós mesmos. Mas que não é fácil, não é não. É meio difícil. A gente está com a esperança, fé em Deus para uma coisa melhor. E o tratamento na Santa Casa é muito ótimo."