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Peregrino percorre 1,8 mil km a pé e conclui Caminho da Fé no dia do aniversário: ´Maior aprendizado´

Peregrino percorre 1,8 mil km a pé e conclui Caminho da Fé no dia do aniversário: ´Maior aprendizado´
17.03.2025     Fonte: G1

Um peregrino saiu de São José do Rio Preto (SP) há dois meses, com destino a Aparecida (SP), e concluiu, a pé, o Caminho da Fé. O religioso, que percorreu 1,8 mil quilômetro com trajeto de ida e volta, finalizou o desafio na quinta-feira (13), dia em que completou 60 anos.

Vanderlei Lucas Cardoso, aposentado e natural de Foz do Iguaçu (PR), escolheu fazer a jornada como um ato de gratidão e fé.

A escolha do Caminho da Fé, mais especificamente o percurso saindo de Rio Preto, tem um significado particular para ele: é o maior ramal dentre os 17 trajetos com destino ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida.

Lucas já havia completado o mesmo desafio em 2022, mas decidiu refazer a rota e, agora, conclui-la de forma simbólica em um prazo de 60 dias: um dia para cada ano vivido.

Aos 59 anos, ele decidiu que queria comemorar a transição para os 60 anos de forma única e especial, alinhando a data à peregrinação: "Eu queria que essa idade ficasse marcada de uma forma especial na minha vida", conta.

?? Jornada espiritual

Para Lucas, o Caminho da Fé é muito mais do que uma simples caminhada, é uma jornada espiritual. Ele descreve os momentos de solitude durante a peregrinação como uma experiência de total conexão com Deus.

A cada quilômetro percorrido, o peregrino se deparava com a oportunidade de refletir sobre sua vida, pedir perdão, se perdoar e, principalmente, se renovar como ser humano.

"É um momento de correção, de purificação. Quando você termina o dia, sai com a alma lavada, pronta para um novo recomeço", diz.

Um dos momentos mais marcantes da caminhada aconteceu quando, ao chegar a Porto Ferreira (SP), ele entrou em um pequeno bar para comprar um isotônico. Ao vê-lo, a comerciante responsável pelo local perguntou se ele estava indo para Aparecida. Após confirmar, ela ofereceu-lhe não só o isotônico, mas também uma garrafa de água, insistindo que ele levasse a bebida.

Lucas, já acostumado às simplicidades da peregrinação, tentou recusar e disse que só precisava de um pouco de água, até mesmo da torneira. Entretanto, a mulher insistiu, dizendo que não cobraria pela água, pois queria que, ao chegar a Aparecida, Lucas abraçasse Nossa Senhora por ela. Sensibilizado, o peregrino aceitou o gesto com gratidão e seguiu seu caminho.

Cerca de 20 dias depois, em Consolação (MG), ele encontrou uma romaria que estava levando a imagem de Nossa Senhora Aparecida até a Basílica.

Lucas se juntou ao grupo e, para sua surpresa, um dos romeiros pediu que ele conduzisse a imagem por um tempo. Ele não hesitou em aceitar o convite, sentindo-se profundamente privilegiado.

A imagem, que estava dentro de uma mochilinha transparente, foi colocada em seu peito, e, por um momento, Cardoso sentiu como se estivesse abraçando Nossa Senhora. A coincidência entre o pedido daquela mulher em Porto Ferreira e o momento vivido não passou despercebida por ele.

"Aquela senhora profetizou esse momento 20 dias antes. Ela não me disse qual era o seu pedido, apenas disse que eu abraçaria Nossa Senhora por ela, e foi o que aconteceu", conta.

Obstáculos e desafios

Entre os muitos desafios da caminhada, Lucas destaca tanto os obstáculos físicos quanto os psicológicos. Com trechos de até 44 quilômetros por dia em terrenos irregulares e inóspitos, o desgaste foi intenso.

"O maior desafio é o físico. Você nunca está completamente preparado para o que vem. Mas o psicológico também é importante, e, ao longo do caminho, você se condiciona a isso. Cada dia é uma superação", comenta.

Além disso, as cidades pequenas por onde ele passou ofereciam poucas opções de hospedagem e alimentação. Muitas vezes, após as 14 horas de atividade física, ele não encontrava refeições tradicionais, apenas lanches.

Mas essas dificuldades foram parte da experiência, que traz uma lição aos peregrinos: viver apenas com o essencial.

"O maior aprendizado é saber que você pode viver com pouquíssimo e viver muito bem. É libertador", afirma.

Para lidar com as adversidades, Lucas se preparou e fez um acompanhamento médico. Ele consultou três profissionais — cardiologista, nutricionista e nutróloga — garantindo que sua saúde estivesse apta para encarar a missão. "Com o acompanhamento desses profissionais, consegui ter a segurança de que estava fazendo tudo da maneira certa", afirma.

A emoção do retorno

À medida que se aproximava de Rio Preto, durante a volta, a emoção tomava conta de Lucas. A expectativa de concluir a jornada no dia de seu aniversário era um momento aguardado com ansiedade (assista ao vídeo abaixo).

"O que eu sinto agora é algo inexplicável. A adrenalina de completar esse caminho é algo fora do comum", revela ele.

Para o peregrino, a fé é a força que o mantém de pé: "Eu considero a minha fé inabalável. Você tendo fé, você vai e chega aonde você quiser", destaca. A cada passo, ele sentia a presença de Deus e acreditava que tudo no caminho tinha um propósito divino.

Ao chegar à Basílica Menor de São José do Rio Preto, completando seus 60 anos com a conclusão do desafio de 60 dias, Lucas pôde finalmente olhar para trás com um sentimento de dever cumprido.