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Em plena era da IA, tornar-se professor é assinar atestado de burrice?

Em plena era da IA, tornar-se professor é assinar atestado de burrice?
11.06.2025     Fonte: eNoroeste

Não é de hoje que o magistério, especialmente no Brasil, é tratado como um sacerdócio de sacrifício. Salários baixos, desvalorização social, infraestrutura precária e jornadas extenuantes são parte do combo. Agora, para coroar essa epopeia de obstáculos, surge um novo personagem na narrativa educacional: a Inteligência Artificial. Com suas respostas instantâneas, capacidade de gerar textos, corrigir provas, planejar aulas e até “ensinar”, a IA ameaça o que restava de esperança na profissão docente. Diante disso, a pergunta que ecoa — incômoda, sarcástica e tristemente atual — é: em plena era da IA, tornar-se professor é assinar atestado de burrice?

O golpe de misericórdia?

Para os mais apressados, a resposta parece óbvia. Por que passar anos estudando para ensinar, se uma máquina faz isso em segundos? Por que enfrentar salas superlotadas, alunos desmotivados e governos que tratam educação como um fardo, se a IA promete soluções brilhantes e limpas, com um clique? Nesse cenário, o professor pareceria uma relíquia do passado — um VHS em um mundo de streaming.

Mas calma lá. Antes de batermos o último prego no caixão da profissão, vale a pena olhar com mais atenção.

A burrice de quem, exatamente?

Se há burrice na equação, talvez não esteja em quem escolhe ensinar, mas em quem escolhe desprezar a função do professor. A Inteligência Artificial, por mais inteligente que seja, não educa. Ela processa, reproduz, organiza e simula — o que é ótimo, mas limitado. Ela não lida com choro, insegurança, traumas, desigualdades, fome, abuso doméstico, nem com a inconstância emocional de um adolescente em crise existencial. Ela não capta o olhar de um aluno que não entendeu, mas tem vergonha de perguntar. Não inspira. Não motiva. Não transforma.

Educar é mais que transmitir conteúdo. É construir sentido, mediar conflitos, formar pensamento crítico, cultivar ética. E isso, com todo respeito ao ChatGPT (inclusive este que vos escreve), ainda é território humano.

O professor como hacker da IA

Se há uma burrice real hoje, é a de não preparar professores para usar a IA como aliada, em vez de tratá-la como inimiga. O bom professor do século XXI não será substituído por robôs, mas potencializado por eles. A IA pode corrigir redações, mas não pode dialogar com o aluno sobre o que ele quis dizer com aquela metáfora estranha. Pode planejar atividades, mas não pode improvisar diante de um imprevisto em sala.

O professor que souber usar essas ferramentas a seu favor será mais eficiente, criativo e respeitado. Ele deixa de ser um reprodutor de apostilas e torna-se um designer de experiências de aprendizagem, um facilitador, um mentor.

Burrice é desistir da educação

Tornar-se professor, em qualquer época, nunca foi um gesto de oportunismo. Na era da IA, mais do que nunca, é um ato de resistência. E mais do que resistência: é uma aposta no futuro da humanidade, no que nos torna humanos, no que ainda não se pode automatizar — a empatia, a escuta, a inspiração, o vínculo.

Então, não. Tornar-se professor não é assinar atestado de burrice. Burrice é virar as costas para a educação justo quando ela mais precisa ser reinventada.